Para especialista, a informalidade e a precarização comprometem significativamente as condições de trabalho e saúde dos profissionais da estrada.

Dados do Ministério Público do Trabalho revelam que 90% dos sinistros fatais com caminhoneiros acontecem devido à falha humana.

A pesquisa, que reuniu mais de 100 mil horas de monitoramento de viagens de caminhoneiros, traçou o perfil de motoristas profissionais e identificou que hábitos como dividir a atenção com o celular, manter uma das mãos apoiada fora do volante, interagir com outros objetos e não usar cinto de segurança são os mais graves e frequentes desvios cometidos pelos motoristas monitorados.

O levantamento também identificou como frequentes a presença de objetos soltos na cabine, o costume de dar carona indevidamente. Além de dirigir sem cinto de segurança, com postura incorreta e com sonolência.

Embora os dados não sejam favoráveis, a pesquisa traz um ponto positivo: auxiliar na redução do número de sinistros, uma vez que as referidas informações servirão de base para treinamentos nas empresas e para os acompanhamentos individuais dos seus profissionais.

De acordo com a advogada Débora Jensen, especializada em Direito do Trânsito, é primordial que se ofereça dignidade ao trabalho dos caminhoneiros.

“É preciso que o governo e as empresas entendam a realidade do cotidiano desses trabalhadores. Há realmente muita imprudência, isso é um fato, mas, ela é, na maior parte das vezes, reflexo de uma péssima condição de trabalho. Portanto, aliar medidas de conscientização, campanhas educativas, com implementação de melhorias nas condições de trabalho do caminhoneiro, certamente traria grande melhora para o cenário atual”, afirma.

Imprudência de ambas as partes

Uma maior fiscalização sobre as atividades dos caminhoneiros sem dúvidas contribuirá para melhorar suas condições de trabalho. Sobretudo por sabermos que a informalidade e a precarização comprometem significativamente as condições de trabalho e saúde desses profissionais. No entanto, faltam pontos de apoio nas rodovias do Brasil, evidencia a especialista.

De acordo com ela, existe uma urgente necessidade de implementação por parte dos governos de bases para que o motorista possa descansar em segurança, se alimentar e tomar banho, por exemplo. Já a falha humana se trata, na verdade, da imprudência dos motoristas, considera.

“Sabemos que a imprudência é a principal causa de acidentes de trânsito no Brasil e, ainda assim, vemos um grande desrespeito às regras de trânsito. Se fossem cumpridas com rigor, certamente haveria uma redução drástica no número de acidentes e, consequentemente, de mortes. Ao dirigir em velocidade superior à permitida na via, por exemplo, aumenta significativamente o risco de morte em caso de acidente. Não há dúvidas de que a imprudência é reflexo direto no número de mortes”, enfatiza.

Programas de conscientização

Medidas e campanhas de conscientização sempre são válidas visando reduzir a violência no trânsito brasileiro. E, neste sentido, órgãos públicos e empresas privadas têm força para, juntos, mudarem o cenário atual, aponta a advogada.

Segundo ela, além de ações educativas, de uma fiscalização mais rigorosa, da implementação de pontos de apoio ao longo das estradas, o tema precisa ser abordado à exaustão.

“Certamente campanhas de conscientização ajudariam muito nesse processo, pois, apenas a real consciência quanto aos riscos da imprudência na condução do veículo é que levará a uma mudança de postura do caminhoneiro. Órgãos e empresas deveriam promover ações simultâneas de educação e conscientização no trânsito com regularidade”, reforça e finaliza a especialista em direito do trânsito.

Fonte: Portal do Trânsito e mobilidade, por Pauline Machado